[texto fictício] análise da expressão verbal


Embora entrasse luz do sol pelas janelas da casa e pelos furos da telha, o passarinho na gaiola se sentia incapaz de se conectar com a passagem de tempo. Talvez por isso concebia os dias como sendo iguais, sem cor, mas ainda sim se perdia nessa rotina monótona e deprimida. Morar em uma casa com grades te faz medir quantos passos pode dar antes de ser barrado, o que faz o passarinho limitar a si para ter algum controle. Sua gaiola está tão alta que por vezes se sente no céu, mas se estivesse no chão seria mais condizente com sua situação. Se bem que ele sonha com grandes alturas e com a liberdade que tem como consequência a emoção de experenciar o mundo fora de todas as paredes e grades que o cercam. No entanto, ele sente medo desses sonhos serem tão reais quanto os pesadelos que acompanham as graças da vida: os mais diversos perigos e ameaças que estão do lado de fora das grades. Talvez por isso constantemente se pergunta se as grades o prendem ou o protegem, se é melhor aqui na mesmice ou lá fora na instabilidade. E, enquanto sobrevive aos seus dias, o passarinho observa os seres que caminham por fora das grandes e como eles se vem e se vão, sempre os mesmos, mas com expressões tão diferentes ao longo do tempo. Comumente eles param para lhe dirigir olhares curiosos ou imitar o seu cantar. E nisso, o passarinho se pergunta por que eles repetem os seus lamentos e se é porque a casa deles também parece ter grades.

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