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Mostrando postagens de 2020

[texto] se eu disser crise não é financeira

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Sabe-se la quantos minutos se passaram comigo aqui. Cantos, eu gosto de cantos. Encostar, apertar, encolher. E tic, toc. As vezes parecem horas e outras vezes poucos minutos. E quando vejo, nossa, já são 23h, desde quando estou aqui? O corpo dói, a cabeça dói, o rosto está grudado. Abro forte os olhos pra desgrudar. Caiu mais uma lágrima, ou duas? Queriam esperar o final. Estico uma perna, outra, não posso pensar. Não, não, não, não posso pensar. Pensei. Lembrei que gosto de cantos, vou para os cantos. Quanto mais cantos melhor, especialmente se eu puder apoiar a cabeça. Penso penso penso penso. Penso grande, pequeno, penso nisso e naquilo. Socorro, esqueci de respirar. Respiro. Droga, não devia ter pensado nisso, agora sinto esse peso todo, pelo menos antes respirava no automático, e agora, nossa. Que peso, que dor. Por que você está gritando? Estou com medo. Saia daqui. Tic, toc. E aquele dia? E aquela vez? E se estiver acontecendo? Será que não sei? O que você vai fazer? O q

[texto] Você vai saber o título quando ler

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Todos os dias, a pelo menos três anos, digo que estou tão cansada que não aguento mais. Todos os dias. No começo eu não entendia muito bem o que estava acontecendo, então eu me questionava porque as coisas davam errado e me machucavam tanto e respondia a mim mesma que eu não merecia, que eu só era emotiva e que tudo daria certo depois. Sabe, que era só uma fase ruim e que iria passar. Um clichê. Não sei se não perceberam os sinais, afinal eu mesma não percebia, mas fui sentindo cada vez mais que os conselhos amigos não surtiam o mesmo efeito, que por mais que eu explicasse não conseguiam me entender. Ainda hoje, quando tento falar, mal leio as respostas, já sei o que me espera. Não que as pessoas sejam ruins, longe disso, mas depois de tantos anos, tantas práticas, tantas dicas, eu simplesmente não suporto mais ler as mesmas coisas e tentar explicar que é muito mais que isso, que está muito além da força de vontade. Mas as pessoas não conseguem compreender algo que não vivem,

[texto fictício] análise da expressão verbal

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Embora entrasse luz do sol pelas janelas da casa e pelos furos da telha, o passarinho na  gaiola se sentia incapaz de se conectar com a passagem de tempo. Talvez por isso concebia os  dias como sendo iguais, sem cor, mas ainda sim se perdia nessa rotina monótona e deprimida.  Morar em uma casa com grades te faz medir quantos passos pode dar antes de ser barrado, o  que faz o passarinho limitar a si para ter algum controle. Sua gaiola está tão alta que por vezes  se sente no céu, mas se estivesse no chão seria mais condizente com sua situação. Se bem que  ele sonha com grandes alturas e com a liberdade que tem como consequência a emoção de  experenciar o mundo fora de todas as paredes e grades que o cercam. No entanto, ele sente  medo desses sonhos serem tão reais quanto os pesadelos que acompanham as graças da vida:  os mais diversos perigos e ameaças que estão do lado de fora das grades. Talvez por isso  constantemente se pergunta se as grades o prendem ou o protegem, se é melhor

[texto] escala negativa

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Tenho sentido dores que, ultimamente, não sou mais capaz de explicar. Antes eu já pensava que pudesse ser o fim, sabe?, que não fosse possível que meu corpo se machucasse ainda mais, mas parece que sempre é. Engraçado, se para os outros é "só mais uma vez" e conseguem deixar pra lá, pra depois, pra quando der, porque eu não consigo fazer o mesmo? É tão injusto e cruel que eu tenha que ficar presa a mim, todas as benditas vezes e por tanto tempo, questionando minha existência ao mesmo tempo que existo e sinto tão intensamente que não se é possível questionar. Mas ainda sim questiono -agora mesmo, enquanto encaro meus pés e tento resistir a mais um chamado do não existir. E pra dificultar ainda mais o florescer de pensamentos positivos, descobri que pior do que estar sofrendo agora, é saber que amanhã também estarei assim. E isso me consome, me agoniza, me machuca e me consola: pensar num amanhã, mesmo repleto de dor, é uma coisa boa, né? Da pra ver uma perspectiva, uma

[texto] outra vez em prantos outra vez lamento

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E esses dias confusos que venho enfrentando, se é que posso chamar de dias e não de tempos muito longos, estão amargurando ainda mais os pensamentos que em mim surgem repentinamente -embora tais pensamentos também morem comigo. Dias que vem levando meus amigos para longe, pois eu disse a eles que não mais existe gosto. Ou melhor, não disse, já que evitando as despedidas achei que meu corpo não sentiria esse adeus. Mas sentiu. E esses dias confusos, ou tempos longos demais, estão fazendo com que eu me veja de novas formas, mas todas seguindo o mesmo padrão deprimido. Acordo sentindo o peso de um novo dia, ao mesmo tempo que meus pulmões anseiam por novos ares. E a noite, quando não consigo dormir, experimento sabores que nem imaginei que poderia, como a mistura de dor e vazio e a de confusão e sofrimento. E ai, em prantos, lamento. Me culpabilizo pelos erros insistidos e pelos recém-chegados, como se duvidasse que, na ultima crise, eu havia me machucado o suficiente. A cada dia me