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Mostrando postagens de abril, 2020

[texto] se eu disser crise não é financeira

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Sabe-se la quantos minutos se passaram comigo aqui. Cantos, eu gosto de cantos. Encostar, apertar, encolher. E tic, toc. As vezes parecem horas e outras vezes poucos minutos. E quando vejo, nossa, já são 23h, desde quando estou aqui? O corpo dói, a cabeça dói, o rosto está grudado. Abro forte os olhos pra desgrudar. Caiu mais uma lágrima, ou duas? Queriam esperar o final. Estico uma perna, outra, não posso pensar. Não, não, não, não posso pensar. Pensei. Lembrei que gosto de cantos, vou para os cantos. Quanto mais cantos melhor, especialmente se eu puder apoiar a cabeça. Penso penso penso penso. Penso grande, pequeno, penso nisso e naquilo. Socorro, esqueci de respirar. Respiro. Droga, não devia ter pensado nisso, agora sinto esse peso todo, pelo menos antes respirava no automático, e agora, nossa. Que peso, que dor. Por que você está gritando? Estou com medo. Saia daqui. Tic, toc. E aquele dia? E aquela vez? E se estiver acontecendo? Será que não sei? O que você vai fazer? O q

[texto] Você vai saber o título quando ler

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Todos os dias, a pelo menos três anos, digo que estou tão cansada que não aguento mais. Todos os dias. No começo eu não entendia muito bem o que estava acontecendo, então eu me questionava porque as coisas davam errado e me machucavam tanto e respondia a mim mesma que eu não merecia, que eu só era emotiva e que tudo daria certo depois. Sabe, que era só uma fase ruim e que iria passar. Um clichê. Não sei se não perceberam os sinais, afinal eu mesma não percebia, mas fui sentindo cada vez mais que os conselhos amigos não surtiam o mesmo efeito, que por mais que eu explicasse não conseguiam me entender. Ainda hoje, quando tento falar, mal leio as respostas, já sei o que me espera. Não que as pessoas sejam ruins, longe disso, mas depois de tantos anos, tantas práticas, tantas dicas, eu simplesmente não suporto mais ler as mesmas coisas e tentar explicar que é muito mais que isso, que está muito além da força de vontade. Mas as pessoas não conseguem compreender algo que não vivem,

[texto fictício] análise da expressão verbal

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Embora entrasse luz do sol pelas janelas da casa e pelos furos da telha, o passarinho na  gaiola se sentia incapaz de se conectar com a passagem de tempo. Talvez por isso concebia os  dias como sendo iguais, sem cor, mas ainda sim se perdia nessa rotina monótona e deprimida.  Morar em uma casa com grades te faz medir quantos passos pode dar antes de ser barrado, o  que faz o passarinho limitar a si para ter algum controle. Sua gaiola está tão alta que por vezes  se sente no céu, mas se estivesse no chão seria mais condizente com sua situação. Se bem que  ele sonha com grandes alturas e com a liberdade que tem como consequência a emoção de  experenciar o mundo fora de todas as paredes e grades que o cercam. No entanto, ele sente  medo desses sonhos serem tão reais quanto os pesadelos que acompanham as graças da vida:  os mais diversos perigos e ameaças que estão do lado de fora das grades. Talvez por isso  constantemente se pergunta se as grades o prendem ou o protegem, se é melhor