[poema] chamas e velas

9 de julho de 2018
Como escrever para descrever o
que sinto
Se não sei o que sinto?
Se sou como chama na vela
Que se falha, apaga
Que se queima, diminui
Clarear deixar a mesma sequela
Que o escuro gerado pela ausência
de luz
O fim
Devo fragmentar minha intensidade
para durar mais
Ou perecer em um êxtase luminoso?
O breu torna mais belo o meu
dançar
Ao mesmo tempo que ameaça me
abraçar
Num jogo transcendental e
perigoso
Mas o que devo escolher
Se não sei o que sinto?
Se também sou como a vela da
chama
Que se reutiliza, acende
Que se diminui, funciona
Que é feita para perecer
E que feliz vai morrer
Por ter servido de sustentador
Ah, o calor
Sinto que posso escrever para o
descrever
Mas o que sinto não diz o
suficiente
A gente não entende quando vê
Precisa tocar para entender
A corporeidade-inexperiente
O calor-amor
Que a vezes sentimos
Incendeia
Fragmenta
Poderia eu viver indecisa
Caminhando entre ideais
Ou tal pensamento é só uma
utopia?
Ser como vela e chama
Nem mais um ou outro
Adaptável, fixa, quente, fria,
clara, fraca, forte, lenta, rápida, reutilizável, imutável, funcional,
Enquanto ainda crepito
amavelmente sensual
Sem me esvair
A indecisão também é uma escolha
Boa para quando não sei o que
sinto
Embora as vezes minto
Para não ter que escolher
É tão errado assim pensar tanto?
Sobre o tudo, sobre o nada
Sobre o universo
Sobre os meus versos
Sobre a vela meio apagada
Sobre mim
Sobre mim
O que sinto por mim?
O que sentem por mim?
As pessoas são velas e chamas
E só queimam se encostar
Só clareiam se parar para olhar
E se apagam só de assoprar
Precisa tocar para entender
Mas não podem tocar em mim
Não sei o que sinto
Não sei o que sou, como sou
Não quero machucar
Quero tocar
Até aprender
Que tipo de calor quero ser
E ter
Quero sentir
O que podem me dar
Até aprender
A melhor forma de me doar
sem doer
sem machucar.
- Carla Herculana