[texto] palavras




Imagem relacionada
Sem palavras suficientes para expressar o que sinto, me perco em pensamentos que me consomem por dentro. Mas o problema não são as palavras em si - e sim o quanto podem levar de mim. Veja o amor, por exemplo, o quanto ele me levou. Parece que foi ontem que estive na chuva pensando como desejaria transbordar e inundar todo um mundo além de mim, isto é, tal como um céu que, não suficiente para conter a si, se deixa levar pelas nuvens até o momento exato de cair. No entanto, as palavras carregam dúvidas e me surpreendo com o quanto conseguem trazer pra mim. Trazem ansiedades que resultam nas noites em claro onde me inundo na dúvida se amanhã uma palavra boa vira, e trazem o fardo de me fazerem sentir intensamente as ações de cada verbo. Mas ora, se essa linguagem fosse suficiente quem garante que eu conheceria as palavras certas? Ou então, que eu as usaria corretamente? Veja a dor, por exemplo, o quanto ela me causou. Dói ralar o joelho, dói estar confuso, dói se sentir incapaz e dói não conhecer outros sinônimos para o que dói. Mas dói, não é? E dizer que dói leva de você a dor? Dizer que ama te trás amor? Dizer que não sabe te leva a algum lugar? Nem sempre. O que acontece sempre é viver na palavra que carrega o sufoco e que me faz andar na linha que evita qualquer sentimento, mas onde não tenho equilíbrio algum. E assim, numa noite iluminada eu me pergunto se estamos observando a mesma estrela, ou se esse ingênuo sentimento de conexão é só uma mera disfunção no meu modo deprimido de estar sendo. Mas ei, veja, eu sou feliz. Grata pelas palavras boas que ainda são capazes de levar o peso da negatividade e, em contrapartida, trazer as cores que por muitas vezes iluminam o meu céu. E, nesse último caso, devo agradecer aos exímios poetas que com sorrisos e gestos fazem sussurrar mensagens que me desequilibram para o lado bom. Poderia cair, sim, mas as palavras boas machucam as vezes se outros não souberem usar e, infeliz ou felizmente, não sou a única que as acrescenta e retira nesse livro. Sendo assim, na próxima noite chuvosa eu poderia fazer alguns verbos, e poderia tomar decisões e poderia não pensar demais. Ademais, se a palavra coragem me trouxesse uma caneta eu colocaria na tua pele algumas palavras e te deixaria completar com seu próprio vocabulário, numa doce esperança de conhecer o seu significado. Assim, entenderia a forma como nossos olhos brilham ao observar as estrelas no céu. Mas, enquanto a ambiguidade cerca minhas linhas e molha minhas páginas, percebo que nesse mar de escolhas a se fazer a dúvida final que me resta é: quais palavras são realmente suficientes?

- 26 de novembro de 2018