[poema] eclipse

Eu sinto o vazio de uma tarde sem pôr-do-sol
De um adeus não dito claramente
Do silêncio das palavras jogadas em vão
Se a lua pudesse escolher
Ela escolheria o sol?
Mesmo sabendo que no eclipse tudo fica escuro
Porque não sabem se tocar sem se consumir
Sem deixar de brilhar
Sem ter espaço
Mesmo no espaço
A lua e o sol não sabem se amar
Mesmo se amando
- que trágico
E é por isso que sinto a ausência
Do som que o sorriso fazia
Do toque que evocava arrepios
E das chuvas de verão
Aí vi que na visão onde Plutão é um planeta
Há espaço para reconhecer o mais pequenino gesto
Mas nada de se permitir esquecer que o sol é uma estrela
que queima
e machuca
quem não sabe tocar
E a lua ainda não sabe
E não pode se deixar errar
Pois o escuro é uma consequência que já deixou marcas
Nos olhos de quem gosta dos dias de sol
E agora esses olhos enxergam borrões
Que não se limpam com lágrimas
E é assim que sigo sentindo a falta que faz
o cantar dos pássaros ao amanhecer
Quando deito na nuvem onde sonhava
- e por vezes admirava
o nosso eclipse acontecer
15 de outubro de 2018
Carla Herculana