Outro texto que eu não sei um titulo

Eu queria lavar a minha alma, se desse. Deixar ela transparente, mais clara que água. Queria poder visualizar ela por inteiro, cada detalhe, cada pequena coisa. Gostaria de remenda-la, fazer sarar todas as suas feridas, e eu quero, mais que tudo, renova-la por completo. Eu poderia, sei lá, começar apontando meus defeitos e os melhorando, e é claro, dar mais destaque as minhas qualidades. Poderia mudar minha aparência, adotar novas maneiras. Mas a raiz, oh a raiz, essa sempre permanece a mesma. Ela guarda, trancafia, toda a sua essência, todo o seu verdadeiro ser. Te impede de mudar, te impede de buscar novas conquistas interiores, ela simplesmente te condena a ser você mesmo o resto
da vida. O problema, são minhas raízes serem de rocha, mais duras que ferro. Elas me matam aos poucos, diariamente, me consumindo até que um dia, talvez, não reste mais nada. Essas raízes, me fixam no chão e me impedem de sonhar, de alcançar algo mais alto. Elas me mantem em uma só posição, e pedem que eu me contente com isso. Quando minhas folhas mudam, e se mudam, é para algo passageiro, de acordo com a estação. Mas elas sempre voltam a ser elas mesmas, a ser eu. Essas folhas vão caindo, são os dias que eu perco parada em um só lugar. As vezes vem algum louco e acelera esse processo, a diferença é que a dor é um milhão de vezes maior, pois não atinge só as folhas, ela vai até algo mais profundo, bem lá dentro, até meu coração, se é que eu posso chamar de coração aquela prisão de sentimentos. Olha, talvez seja isso. Eu não passo de uma prisão de sentimentos, guardando todas as minhas dores dentro de mim. Mas espere, ouvi dizer uma vez que existe uma saída, uma luz no fim do túnel. Será ? Já sonhei tanto com isso que as vezes até me esqueço qual mundo é real. Ai eu acordo. E me deparo com o mesmo cenário. Eu tento andar, mas minhas raízes me seguram. O ar foge de mim, é como se eu me sufoca-se, meus sentidos ficam completamente loucos. Ai, eu choro. Porque não há nada que eu possa fazer, nunca houve e nunca haverá nada. É meu destino ficar sem folhas, sem tempo. Foi pra isso que eu nasci, para fazer parte do cenário, e quando chegar a hora, eu for substituída por outra muda qualquer, que assim como eu será presa por suas raízes e, depois de algum tempo, de algumas estações, perderá as energias e cairá. Cairá completamente seca, sem mais esperanças, e será esquecida rapidamente pois não terá feito historia, e a unica marca que terá deixado no mundo é um buraco na terra, vazio, oco, absolutamente sem nada.